Ratos jovens propensos à obesidade têm menores possibilidades de atingir esse destino sombrio se correrem durante a adolescência do que os sedentários, segundo um novo estudo com animais sobre exercícios e peso. Eles também eram metabolicamente mais saudáveis e tinham no intestino bactérias diferentes das dos ratos que se mantiveram magros cortando a quantidade de comida, de acordo com a pesquisa. A experiência foi feita em roedores, não em pessoas, mas levanta questões interessantes sobre qual é o papel do exercício em afastar a ameaça da obesidade.

Por algum tempo, muitos cientistas, gurus de dieta e eu temos afirmado que os exercícios sozinhos não são efetivos para a perda de peso. Vários estudos mostraram que se pessoas com sobrepeso que começam a fazer exercícios, mas não reduzem as calorias que ingerem, perdem pouco ou nada de peso e podem até ganhar quilos a mais.

O problema, segundo a maioria dos cientistas, é que os exercícios aumentam o apetite, especialmente naqueles que estão acima do peso e também podem causar inatividade compensatória, o que significa que as pessoas se movem menos nos dias em que fazem algum tipo de ginástica. Como consequência, acabam queimando menos calorias diárias, ao mesmo tempo em que comem mais. Aí, é só fazer as contas.

Mas esses estudos desencorajadores envolviam perda de peso. Houve muito menos pesquisa sobre se os exercícios poderiam, primeiro, ajudar a prevenir ganho de peso e, se a resposta fosse sim, como isso seria comparado à restrição de calorias.

Para o novo estudo, que foi publicado no Medicine & Science in Sports & Exercise, pesquisadores da Universidade de Missouri em Colúmbia e outras escolas primeiro reuniram ratos de uma estirpe que possui uma tendência inata a se tornar obesos desde a adolescência --a adolescência também é quando muitas pessoas começam a ganhar peso.

Esses ratos eram bem jovens, no entanto, e ainda não estavam acima do peso.

Depois de pesá-los, os pesquisadores dividiram os animais em três grupos.

Aos animais de um dos grupos foi permitido comer quanta ração quisessem e permanecer sedentários em suas jaulas. Esse era o grupo de controle.

Os ratos do outro grupo, o de exercícios, também podiam comer o que quisessem, mas tinham rodas de corrida em suas jaulas. Os ratos gostam de correr, e esses animais subiam nas rodas voluntariamente, exercitando-se todos os dias.

O grupo final de ratos, o da dieta, foi colocado em um plano de alimentação com restrição de calorias. Sua quantidade de ração diária era cerca de 20 por cento menor do que a quantidade que os corredores comiam, um tamanho de porção medido para mantê-los mais ou menos com o mesmo peso que os ratos do grupos de exercícios, para que diferenças extremas no tamanho do corpo não afetassem os resultados finais.

Depois de 11 semanas, todos os animais foram transferidos para gaiolas especializadas que podiam medir seu metabolismo e o quanto eles se moviam. Então, voltaram para suas gaiolas anteriores por várias semanas, até atingirem a meia-idade.

Nesse ponto, os animais do grupo de controle estavam obesos, com os corpos cheios de gordura.

Os corredores e o grupo que ingeriu menos calorias, no entanto, apesar de terem ganhado peso, engordaram muito menos do que os do grupo de controle. Nenhum deles estava obeso.

Tanto os exercícios quanto o controle de quantidade de comida, em outras palavras, efetivamente protegeram os animais da obesidade que o destino lhes reservava.

Mas, sob a pele, os corredores e os que fizeram dieta estavam muito diferentes. Em todas as medidas, os corredores apareceram como mais saudáveis metabolicamente, com mais sensibilidade para a insulina e menores níveis de colesterol ruim do que os que cortaram a alimentação. Eles também queimavam mais gordura todos os dias como combustível, de acordo com sua leitura metabólica, e tinham mais marcadores celulares relacionados com a atividade metabólica dentro de sua gordura marrom do que o grupo da dieta. A gordura marrom, ao contrário da variedade branca, pode ser metabolicamente bem ativa, ajudando o corpo a queimar calorias adicionais.

O interessante é que os corredores também desenvolveram bactérias diferentes no intestino das dos que fizeram dieta, apesar de terem se alimentado com o mesmo tipo de comida. Os corredores tinham uma percentagem maior de algumas bactérias e menor de populações de outras do que os ratos dos outros dois grupos; essas mesmas proporções de micróbios no intestino já foram associadas em alguns estudos anteriores com magreza em longo prazo, tanto em animais quanto nas pessoas.

Talvez o mais surpreendente, “os corredores não mostraram sinais de comer ou deixar de fazer atividade de maneira compensatória”, diz Victoria Vieira-Potter, professora-assistente de Nutrição e Fisiologia do Exercício da Universidade do Missouri que supervisionou o estudo. Eles não comiam mais do que o grupo de controle, apesar de correrem vários quilômetros por dia, segundo as gaiolas especializadas, e na verdade se moviam mais quando não estavam se exercitando do que os outros dois grupos de ratos.

Em essência, os corredores, apesar de pesar o mesmo que os que fizeram dieta no final do estudo, pareciam melhor configurados para evitar o ganho de peso no futuro.

Claro, eram ratos, que não compartilham a mesma biologia dos humanos ou nossos complicados relacionamentos psicológicos com comida e gordura corporal.

Esse estudo também envolveu roedores jovens e com peso normal e não pode nos dizer se exercícios ou dieta sozinhos ou combinados iriam ajudar ou dificultar a perda de peso em pessoas (ou animais) que já estão acima do peso, explica Victoria. O metabolismo muda quando o corpo contém grandes quantidades de gordura e fica cada vez mais difícil perder peso permanentemente.

Então, o melhor é evitar o ganho de peso, se possível. E, nesse contexto, ela diz, “restringir calorias pode ser efetivo”, mas os exercícios têm a possibilidade de ser mais eficazes no longo prazo e, claro, como diz o senso comum, fazer os dois --contar calorias e se exercitar-- é melhor ainda.

Gretchen Reynolds
Do New York Times
via UOL

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